Quando tudo parecia tão sombrio e assustador, quando eu cheguei a imaginar ser incapaz de ser amada por alguém, ela me estendeu a mão. Foi assim na infância e continua a ser assim em todos os dias da minha vida, durante todos esses anos, esteja perto ou longe.
Sempre pensei que Deus havia enviado ela pra terra pra velar por mim. Presente de Deus!
Nos momentos mais difíceis, ela sempre esteva lá ... com um copo de leite morno, oferecido sempre acompanhado de um olhar atento (para garantir que não ficasse nem uma gotinha na xícara) e um sábio conselho: "Tome todo minha filha e depois deite um pouquinho pra deixar o leite correr no corpo e esquentar o coração". Sempre funcionava.
Sempre ela, sempre o copo de leite, sempre aquelas palavras, o que acabava me acalentando, aliviando os meus pesares. Desconfio que aquele leite era preparado com doses generosas do amor e da força da minha avó.
Talvez por tudo isso eu tenha passado todos esses anos pensando que minha vó ficaria para semente e que sempre teria seu apoio, seu colo, suas palavras e o leite morno. Hoje, aquela cabecinha branca, o meu capuchinho de algodão, está amparada por um travesseiro verde água de um leito de UTI. Me dói pensar na possibilidade de não tê-la por perto ... me dói não conseguir oferecer a ela o leite morno pra esquentar aquele enorme coração que tem dado sinais de cansaço. Perdão vó!!! Seria a minha vez de te servir, né? ... mas tô com tanto medo de tudo ... preciso de você e do seu leite morno.