quarta-feira, 24 de junho de 2009

Viva São João!!!

Ontem, véspera de São João:

Pessoas, conhecidas e desconhecidas, me perguntando onde eu iria passar a noite de São João, (coisa que eu só tinha costume de ver na noite de natal ou ano novo. Adorei!).
Eu, colocando bandeirolas, balões ao som do bom e velho Sr. Luiz Gonzaga (claro!), e do forró A Natureza das Coisas do Flávio José (que ouvi várias vezes ontem) na casa de R. para uma festa de São João com convidados não menos vips: Vitória, José e Pedro.
No fogo, vatapá, canjica, arroz com carne do sol. Eu nem acredito que eu fiz o vatapá, o meu primeiro!Diga-se de passagem, rendeu elogios de alguns outros convidados que apareceram por lá. Ninguém me segura mais!)
Pelas ruas, fogueiras iluminando a cidade e quem não fez fogueira, foi de vela mesmo!). Barulho de fogos de artifícios.
Nas calçadas da rua onde moro (normalmente muito calma), crianças, jovens, senhores, senhoras, dando o ar da graça. Ah! Ainda tinha o Juá Forró. Mesmo não sendo adepta a esses eventos, não achei ruim ouvir o forró que veio de lá madrugada a dentro(cabe dizer que eu moro longe do local do evento).
Viva, viva, viva São João!

A Natureza das Coisas
Flávio José

Se avexe não
Amanhã pode acontecer tudo
Inclusive nada

Se avexe não
A lagarta rasteja até o dia
Em que cria asas

Se avexe não
Que a burrinha da felicidade
Nunca se atrasa

Se avexe não
Amanhã ela pára na porta
Da sua casa

Se avexe não
Toda caminhada começa
No primeiro passo

A natureza não tem pressa
Segue seu compasso
Inexorávelmente chega lá

Se avexe não
Observe quem vai subindo a ladeira
Seja princesa ou seja lavandeira
Pra ir mais alto vai ter que suar

domingo, 14 de junho de 2009

Tinha de Ser

Ontem, ela, enquanto tentava dormir balançava os pezinhos de um jeito que eu conheço bem. Cada dia ela fica mais parecida com ele: entre trejeitos e sensibilidade para formas e cores.
Ele, há alguns dias atrás mandou um presente pra ela. Um mimo cheio de delicadeza e muito, muito amor. Um história de amor - ilustrada lindamente por ele - entre uma fox paulistinha (mineira de lugar de nascença) e um weimaraner parrudo e altão. Um história de amor que vai da presença constante a ausência que toma conta da vida de um deles. Um história que fala, também, de recomeço. Lembrei do tempo em que Lord Von e Jojô, os protagonistas dessa linda história de amor, ainda encontravam-se sem cor em papel vegetal na mesa da sala de jantar.
O que falar mais sobre as ilustrações dessa linda historinha ... Tradução feita por um menino que cresceu por fora. Desenhos de um menino cheio de sensibilidade, de olhos miúdos, sorriso largo e cabelos esvoaçantes.
Não, não vou ousar tentar explicar o que senti quando vi ali, nas mãos dela, tudo colorido, da maneira mais delicada, singela, sensível, pura beleza (apenas o segundo de muitos que ainda serão ilustrados de forma tão doce, tão suave, de um jeito só dele).
Talvez seja preciso dizer que gente é troço engraçado: é certo, no primeiro momento lamentei não fazer mais parte disso tudo, pra logo em seguida pensar de forma aliviada, até feliz: não, definitivamente não poderia ter escolhido melhor pai para a minha filha.

domingo, 7 de junho de 2009

Desenredo

Numa tarde de sábado, bem próximo aqui de casa, um homem tentou assaltar o posto onde sempre abasteço o carro. Naquela tarde, passando em frente ao posto, pensei em parar. Até percebi o movimento estranho, pensei no que poderia estar acontecendo, mas acabei seguindo meu caminho sem abastecer. A noite, chegando em casa, a vizinha me perguntou se eu tomara conhecimento do assalto que tinha acontecido no posto. Disse que não e perguntei se alguém havia se ferido.
Naquela tarde morreu um homem, o moço do lava jato. Não pela mão do bandido que fugiu sem conseguir levar nada do posto, mas pela mão do colega de trabalho. Os dois decidiram sair numa moto atrás do bandido. Dirigindo a moto, o moço do lava jato. Na garupa o frentista com a arma. Na perseguição, a moto caiu num buraco e a arma disparou acidentalmente, atingindo o moço do lava jato na nuca, tirando-lhe a vida. Naquela noite a dor tomou conta de duas famílias. Naquela noite duas pessoas deixaram de ir pra suas casas: um estava morto, o outro preso. Nos dias seguintes, a vida seguiu. Passei alguns dias pensando sobre isso tudo. Sobre a fragilidade da vida. Vidas que se vão assim, de maneira tão tola. Sobre a violência que ronda. Sobre a importância que damos as coisas. Sobre as consequências das decisões que tomamos num instante e que amargamos por toda a vida. Sobre a vida que segue. Pensei, sobretudo, sobre o quanto é bom poder chegar em casa e se aconchegar com os seus amores ou amigos.

Desenredo
Boca Livre
Composição: Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro

Por toda terra que passo
Me espanta tudo o que vejo
A morte tece seu fio
De vida feita ao avesso
O olhar que prende anda solto
O olhar que solta anda preso
Mas quando eu chego
Eu me enredo
Nas tranças do teu desejo
(...)
O mundo todo marcado
A ferro, fogo e desprezo
A vida é o fio do tempo
A morte é o fim do novelo
O olhar que assusta
Anda morto
O olhar que avisa
Anda aceso
Mas quando eu chego
Eu me perco
Nas tramas do teu segredo
(...)
A cera da vela queimando
O homem fazendo o seu preço
A morte que a vida anda armando
A vida que a morte anda tendo
O olhar mais fraco anda afoito
O olhar mais forte, indefeso
Mas quando eu chego
Eu me enrosco
Nas cordas do teu cabelo
(...)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Vai passar

Agora Vitória dorme. Até a pouco conversávamos. Vitória tem sofrido com a indiferença de Juan. Quem é Juan? Juan é um coleguinha da escola por quem minha pequenina nutre um carinho especial. Há dias ela fala dele sem parar: "Mãe, sabia que o Juan sabe desenhar um sol?","Mãe, o Juan hoje não foi a aula, acho que ele tá doente! Tô preocupada! Vamos ligar pra casa dele?", "Mãe, será que a gente pode dar uma carona ao Juan amanhã depois da aula", "Mãe sabia que o Juan é um artista, ele sabe desenhar tudo, se duvidar ele sabe desenhar uma cidade inteira, ele desenha tão bem (...) ele é como meu pai".
Mas hoje, hoje ela falou da indiferença do Juan, de uma forma triste, sofrida, com lágrimas nos olhos "Mãe, o Juan não quer mais ser meu amigo. Deixou de gostar de mim. Não quer mais brincar comigo na hora do parque, não quer mais sentar do meu lado. Eu não entendo, eu sou uma menina do bem, não sou mamãe?! E eu tô triste, muito triste. Agora ele dá atenção para as outras meninas e eu fico sozinha".
Seria o momento de dizer algo confortante, fazer uso da tranquilidade e da maturidade que os anos deveriam ter me trazido. Não consegui!!! Nenhuma palavra saiu, não soube o que dizer. Apenas a abracei bem forte e chorei, solidária. Tentando tirar um pouquinho da dor daquele pequeno coraçãozinho ou aproveitando para compartilhar um pouquinho da minha. De uns dias pra cá tenho escondido tanto o que sinto, dela, dos outros, de mim mesma, que talvez , de forma injusta, tenha me aproveitado do momento. Há quem diga "Como você está bem!!!" É, ainda dói, mas a vida e as responsabilidades me fazem entender que chorar ou sofrer só depois de deixá-la no colégio, no violino ou na natação. Chorar ou sofrer só depois da aula de francês, da yôga, de ensinar a tarefa de casa, de dar o remédio, de levar ao médico, de fazer a refeição.
Mas hoje, vendo-a chorar, me permiti pensar na minha dor, sem querer saber se era hora. Hora de lembrar o quanto dói recordar dos ditos, dos não ditos, das intenções de amizade eterna que se desmancharam no ar. Lembrar que ainda dói não saber por onde anda ou o que faz. Dói não compartilhar mais tristezas e alegrias, sucessos, fracassos, medos, experiências.
Vitória, deitada no meu colo chorou, chorou muito, depois, olhou pra mim e disse: "Dói, dói muito, né mãe?"Balancei a cabeça dizendo que sim. Na minha cabecinha de vento, pensei: "Ainda dói filha, mas quer saber, com o tempo essa dor vai passar, outras ainda surgirão. É assim, também, que é a vida."
Daqui, olho e vejo Vitória dormindo. Enquanto ela dorme, eu penso sobre o que deveria ter dito e não disse. Como deveria ter agido? Levar tão a sério? Fingir que nada de importante aconteceu? Afinal, pode ser que na segunda o Juan volte a ser amigo dela. Mas também pode ser que não. Isso deve ser só coisa de criança, não é? Mas quem disse que criança não sofre? Não sei!!O que deveria ter feito que não fiz? Filha, perdoe-me se não fiz a coisa certa. Se acabei confundindo as estações. Se exagerei na dose. De qualquer sorte, essa música que aqui transcrevo, hoje, é nossa:

Tudo Novo de Novo
Paulinho Moska

Vamos começar
Colocando um ponto final
Pelo menos já é um sinal
De que tudo na vida tem fim
Vamos acordar
Hoje tem um sol diferente no céu
Gargalhando no seu carrossel
Gritando nada é tão triste assim
É tudo novo de novo
Vamos nos jogar onde já caímos
Tudo novo de novo
Vamos mergulhar do alto onde subimos
Vamos celebrar
Nossa própria maneira de ser
Essa luz que acabou de nascer
Quando aquela de trás apagou
E vamos terminar
Inventando uma nova canção
Nem que seja uma outra versão
Pra tentar entender que acabou
Mas é tudo novo de novo
Vamos nos jogar onde já caímos
Tudo novo de novo
Vamos mergulhar do alto onde subimos