quarta-feira, 29 de julho de 2009

domingo, 12 de julho de 2009

Nos Últimos Dias

Nos últimos dias a vida seguiu o seu curso normal.
Trabalhei; estudei; paguei contas; recebi mais contas; comi; dormi; assiti televisão de maneira inerte até a baba escorrer pelo canto da boca; fui pra aula de yoga; fiz feira; preparei macarrão com sardinha algumas vezes para o almoço; assisti filmes no dvd; fui a terapia.

Nos últimos dias a felicidade tomou de conta.
Fui a uma festa só pra luluzinhas; ajudei a enfeitar a festa de aniversário de dois anos do pequeno José (filho de uma amiga mais que querida); recebi amigos em casa para boas conversas regadas a coca-cola, vinho e café com leite; recebi vários telefonemas e e-mails da minha pequena dizendo o quanto minha ama e está com saudades; elogios generosos e maravilhosos por meios virtuais; e nesse ambiente também reencontrei gente com quem a muito naum falava; me senti feliz com a minha própria companhia; grudei os fones do mp4 nos ouvidos e dancei com as mãos para o alto de maneira descompensada no leito de hospital onde minha vó estava internada, arrancando sorrisos dela e dos outros pacientes enquanto esperavam o momento de entrar no centro cirúrgico.

Nos últimos dias me surpreendi.
Levei o meu sobrinho pra o treino de futebol; joguei com ele e os seus coleguinhas enquanto o treino não começava pra valer; fiz gol, defendi; tive um gol dedicado a mim e eu, que detesto futebol, curti de montão aquele momento; ouvi minha vó me desejar boa noite (depois da cirurgia, mas ainda no leito do hospital) da maneira mais inusitada possível:
"Sonhe com os anjos, minha filha. Não, não, sonhe com uns gatos, um sonhos mais pecaminosos. Você tá precisando é disso".
"Como assim vó?"
"É isso mesmo que você ouviu" rs.

Nos últimos dias cresci.
Neoplasia Maligna, foi o que eu li no resultado da biopsia do nódulo que foi retirado da perna da minha avó. Fechei os olhos com toda a força possível. Não consigo explicar o silêncio que ficou aqui dentro. Senti meu corpo tremer de uma forma estranha. Cerrei os olhos, mais ainda, pensando que ao abri-los todo aquele engano ia se desfazer e a vida ia voltar ao normal. Tornei a abrir os olhos, devagar, temerosa e, sim, havia algo errado. A vida não voltou ao normal.
Pensei que devia chorar, chorar muito. Não consegui. Por alguns instantes pensei que o que estava acontecendo não era justo comigo, com ela. Quis gritar, espernear, maldizer a vida. Mas um sentimento estranho me fez ir até a casa da minha avó e arrastá-la pra um passeio. Não contei nada pra ela. "Isso não vai acrescentar nada de bom na vida dela", pensava o tempo todo no caminho. Fomos a uma pastelaria e enormes pasteis de carne (o melhor agrado que uma pessoa pode fazer pra minha avó).
Em casa, madrugada a dentro, bebemos e conversamos. E lá estávamos, ela com um copo de café com leite na mão, eu com uma taça de vinho. Brindamos a vida. Jogamos conversa fora, rimos muito, falamos de amores, conversamos sobre a beleza da vida. Fiz minha avó ouvir Radiohead, fechar os olhos e sentir a música com os bracinhos para o ar. Ela me fez cantar junto com ela a música Trem das Onze como faziamos quando eu era pequena. E no final, depois de declarações mútuas de amor, vi meu capuchinho de algodão dormir, bem agarradinha dela. Então, chorei.
Não, definitivamente a vida dessa senhora, que foi tão bem vivida, não acaba com esse diagnóstico. Ainda há muito a se fazer.
Amo você vó!

sábado, 4 de julho de 2009

Ao Som de I Will Survive




Saudades Azuis

Vitória foi passar 15 dias de férias com o pai. Fui deixá-la em Fortaleza na quinta. Durante boa parte da viagem ela me falou como estava ansiosa pela chegada daquele dia.
"Mãe eu tô tão ansiosa. Tô sentindo uma 'cosquinha' bem aqui na minha barriga".
"É assim que a gente sente, filha, quando a gente fica longe de quem a gente ama. Quando a gente pensa que está perto da gente chegar perto de quem a gente ama, elas - as borboletas que ficam batendo no estômago trazendo esse friozinho - aparecem. Mistura de amor com saudade, entende?!." "Hum Hum!"

Entre um comentário e outro sobre a saudade do pai e sobre a ansiedade por estar com ele, ela não deixava de dar um jeitinho de declarar seu amor por mim. Desconfio que no fundo ela sabe como eu preciso disso."Mãe, mas eu já te disse o quanto eu te amo? Pois eu te amo do tamanho do infinito".

Meu coração apertado e miudo com a possibilidade de não estar com ela por quinze dias, ficava um pouco mais espaçoso com essas declarações de amor. Não sei o que acontece comigo (não sei se seria justo generalizar para a categorias das mães), o fato é que a sensação que eu tenho é que ela vai me esquecer em quinze dias, que o amor que ela declara (e que eu sinto) do tamanho do infinito não fique mais tão infinito assim. Uma sensação acompanhada de uma saudade azul (ainda azul) e rechonchuda .

Eu sei, eu sei ... Nada inesperado esse friozinho na barriga que ela me confessou estar!Perfeitamente compreensível essa ansiedade toda! Justo! Nada mais justo passar 15 dias de férias com o pai!O que são quinze dias, não é mesmo? Passa logo! Olhando por outro lado, tô de férias e sem a minha pequena, dá pra ir e vir com mais facilidade! Mas é que a gente tá tão presente na vida uma da outra, que fica difícil ser racional numa hora dessas.

Ai, ai filha!!!! O dia tá lindo lá fora! E agora de manhã, coloquei pra tocar nossa música e dancei, como de costume, no meio da cozinha, com as mãos pro alto. Mas não foi a mesma coisa, faltava você me dizendo "Mãe tu é a mãe mais berel que eu tenho, mas eu te amo".

Sei não, acho que as tais borboletas, já começam a fazer morada aqui no meu estômago. Saudades, filha! Saudades!(e olha que elas ainda estão azuis)!