Se você ainda estivesse aqui, nos sentaríamos naquele sofá surrado, companheiro de tantos anos, e eu contaria baixinho quase em tom de segredo, como a gente sempre fez, a vida toda, que nos últimos tempos, algumas dores não puderam ser evitadas, que a vida me deu um ultimato pra crescer e entender aquilo que ela sempre tentou me fazer entender com todo o seu carinho, mas que eu teimava em não aceitar: o caminhar da gente, por mais companhias que se tenha, é sempre solitário, e a gente precisa aprender a ser sozinho e a gostar da nossa própria companhia.
Se você ainda estivesse aqui, receberia seus beijinhos com mais gosto, pois só agora tenho a real dimensão de quão gostosos eles eram. Me permitiria ser beijada mais e mais e ao final ainda pediria mais uns beijinhos só por garantia.
Se você ainda estivesse aqui, falaria mais sobre meu amor por você e minha gratidão pela sua presença.
Se você ainda estivesse aqui, te diria, que um mês se passou, mas nenhum dia deixei de lembrar de você. Diria que estou me esforçando pra ser forte e seguir em frente, aceitando sua ausência, mas haveria de confessar que ainda me pego buscando o seu cheirinho e sua presença naquele vestido cor de rosa de bolinhas que caia-lhe tão bem, temendo pelo dia que em que o seu cheiro se for.
Se você estivesse aqui diria a melhor de todas as notícias: Benito nasceu, com o nascer de um domingo de fevereiro, as 4:25 da manhã, mês que também marca o seu nascimento para uma vida digna de ser lembrada, mês que marca a sua partida para um descanso merecido, mês que marca, ainda o nascimento de um outro amor, Vitória, que nem parece mais aquele bebezinho que a senhora tantas vezes ninou e que também sente muito a sua falta.
Benito nasceu, vó, um dia depois de um sonho que tive em que a senhora, antes de desaparecer entre flores e fontes, me dizia que agora eu precisava cuidar da vida.
Se você estivesse aqui, eu te diria: estou tentando cuidar da vida vó, mas ontem, deixei-a de molho e chorei, chorei muito a sua falta, olhei pra cada espaço da casa e lembrei de você, até que, por acaso, encontrei um vídeo que gravei há uns dois anos atrás, com a senhora contando um pouquinho de sua história, chorei mais um pouco, e entre lágrimas e apesar delas, assisti o vídeo na companhia do Zé (Ranier) e conseguir sentir um alívio no meu coração, vendo a senhora ali, tão viva, tão forte, dizendo que tinha sofrido muito, mas que agora era muito feliz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário